Quem vê a escola Tenente Melo e julga pelas aparências, certamente comete erro. No interior daquela construção antiga, feita de táboas e coberta de amianto, professores e alunos interagem e aprendem mutuamente sobre os conteúdos curriculares e sobre a vida. No calor das relações, o que menos faz falta é luxo frio de instalações que muitas vezes cria a ilusão e o preconceito de que escola bonita produz mais conhecimento. O jornalista Dejanir Haverroth visitou a escola no dia 14/04/2011, o que resultou na presente reportagem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcnwesugPunhUZWh7kmHWUTaZOIl7x0UlPfzGCmyvPHCstTleq7Kpv3B9_NDwqUlP0oKw8Fa5UWDChwIwUQCe59WUp68fwMSA4OYgN_fS1fDR1aVxtiUfJ3TLWMre3jySTN5yLQxhvRno/s200/DSC03507.JPG) |
A diretora Elizete ajuda nas aulas |
A pequena escola é localizada a 57 km de Vilhena, em uma antiga vila chamada São Lourenço. As modestas instalações abrigam cerca de 100 alunos, moradores nos arredores da escola, num raio de 15km, cujo caminho da escola é feito em ônibus e caminhonetes do transporte escolar gratuito. As 10 turmas são atendidas por 13 professores, cinco deles são da rede estadual de ensino e atendem alunos do ensino médio, através de uma parceria entre prefeitura e Estado. A escola é mantida pelo município, a quem cabe a obrigação de cuidar do ensino infantil e fundamental.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMm6GkCniJng3S7oT3kxnLQFNBmpSStWyH-_okpSqJsGOXiIBkBAK_gtQf9Lghse-j1V680SpYDJWgbZFag4WJAcHX2NYqcVlHpGdXtee46f1gt1AXqD9mc_HwDVigu44bBVCyAHgd1Po/s200/DSC03501.JPG) |
Alunos almoçam ao ar livre |
O relacionamento entre os professores e a interação com os alunos na Tenente Melo é a antítese da escola pública existente no imaginário preconceituoso de quem não conhece, e não admite, que existam pessoas sérias no serviço público. Os professores lotados ali moram na cidade de Vilhena (57 km distante), com exceção da diretora. Eles saem as 06h da manhã e retornam às 14h para trabalharem outro período e complementar a renda. Ninguém se queixa da rotina.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0ykgV7q4r3_b-Sggz_6t_1PE2nPve81qm5JxAdHgRQYH248P3bdDStB5ATZXjuc9tiNLHRi4L_8RI8CpN2PWsCg0ORDOTLt5gbJ3LfXQ7ePlycJnujvQtCKmLH3n50tp-HfS-yo3c4Wk/s200/DSC03481.JPG) |
Professora Mestra Elizabeth |
A diretora da escola Tenente Melo, Elizete Ewald, é moradora da vila de São Lourenço a pouco tempo, mas morava num sítio próximo ha mais de 15 anos. O nível de satisfação dos professores e alunos com a direção é perceptível sem que se precise perguntar. Elizete assessora a todos e substitui professores quando é preciso. Não há equipe na secretaria. Todo o serviço burocrático da escola é feito na Secretaria Municipal de Educação (Semed).Dentre os professores não há leigos, como ainda é comum em algumas localidades brasileiras longínquas. Todos têm curso superior – pedagogia, letras, biologia. Dentre eles há uma mestra, duas especialistas e os demais professores estão fazendo pós-graduação em suas respectivas áreas.
Elizabeth Kipert é formada em letras concluiu mestrado em Educação e Linguagem na UFMT. Ela leciona língua portuguesa e inglesa para as turmas de 6ª a 8ª séries, e substitui a professora de ciências que está de licença. Elizabeth disse gostar muito de trabalhar na Tenente melo, por conta da postura dos alunos e dos colegas. “Os alunos são carinhosos e acolhedores, a diretora é competente e muito atenciosa e os colegas professores são camaradas. A harmonia que existe aqui é muito gratificante”, disse Elizabeth que sonha com o doutorado.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8Hst2B1X9Pj59ezYgbTV6tvrB9a8FBfhxX5M9dIJDpCu9IcmETezm_dFg4X4bPQMiqDwKMtIEPeC2Wo6d7XMCC1jVUCixAR9HQLtKgXodPJ6LQpuu0mrA1KpI4HxGDgaetV0JfwKD9fc/s200/DSC03500.JPG) |
Professores também servem |
Angela de Moraes escolheu a Tenente Melo porque gosta de trabalhar com alunos da área rural. Ela é pedagoga e gestora em educação pós-graduada, trabalha na rede municipal de educação há 15 anos. Ao ser perguntada sobre as atividades extra salas de aula que os professores, principalmente das escolas rurais precisam desenvolver, Angela falou que a educação não se resume nas matérias curriculares. É preciso haver interação entre todos os membros da comunidade escolar – professores, alunos, pais e equipe de apoio. “Para desenvolver um bom trabalho, é preciso que cada professor se doe um pouco mais. Essa é uma realidade que vivemos aqui. Todos são dedicados e existe uma grande afinidade e companheirismo entre nós”, disse Ângela.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJhdsKUvZooDiyTRFnHjxZmu8R_iDzDa8Qi87D8T_eOK0M6Sc0JhYwhnA4ZbMq4Blv4GIJKi43IJvJOPxSA8vvV1gwXUUX1f1kzuELq9Y8T0BKpI4jV-trt6LvUoZ1AmUe_ndBwcWgmsE/s200/DSC03490.JPG) |
Arroz, feijão, macarrão, carne e salada |
A alimentação oferecida pela escola aos alunos e professores é reforçada. As atividades escolares começam depois do café da manhã e se encerram depois do almoço. No cardápio do almoço servido no dia da visita da reportagem havia arroz, feijão, macarrão, carne e salada. De barriga cheia, a “piazada” volta para casa.
Como aprendem os alunos da Tenente Melo
O currículo da educação básica na rede pública de ensino no Brasil é unificado. O que se aprende em uma escolinha de interior se aprende em uma grande capital, em qualquer região do país. O diferencial está em cada escola e em cada professor. A forma de passar esse conteúdo e o grau de comprometimento de cada profissional é que faz a diferença.
O fato de a Tenente Melo ter um número reduzido de alunos facilita o trabalho dos professores. Diversas atividades são desenvolvidas com os alunos durante as aulas e que servem de recursos didáticos para os professores. Durante a visita de nossa reportagem, no dia 14/04, pelo menos duas atividades estavam sendo desenvolvidas na escola: mutirão contra a dengue e bolo especial de páscoa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkU-5RPrg1Txs2q9vEIWKNdcUC3OdctBYDFil-gwSm9Cvh9LqX2BEdfXAXK6VGtqqWqTFdFv4vZ6oSARMKhprsgpbveC4gb4Xb1cWf9A6VoSmMw3igArUerh2kGrjKx9z15iII6BQzvk4/s200/DSC03511.JPG) |
A procura do mosquito da dangue |
Mutirão contra a dengue - Sob a orientação dos professores Elizabeth Kipert e Edwilson Nunes, os alunos fizeram um mutirão par conscientizar a população da vila sobre a importância de se combater o mosquito Aeds Egipte, transmissor da dengue. A data escolhida para o mutirão foi quinta-feira, 14/04, chamada de “Dia D” contra a dengue.
Eles confeccionaram máscaras e panfletos explicativos, ilustrados com desenhos feitos por eles mesmos, tudo dentro da temática proposta. Depois da confecção do material, alunos e professores fizeram um arrastão na vila em busca foco do mosquito e de orientar os moradores sobre a prevenção.
A atividade foi utilizada pelos professores de todas as disciplinas. Em língua portuguesa a professora trabalhou elaboração de textos, leitura e interpretação; em educação artística a expressão oral e corporal; em ciências os transmissores, insetos, doenças e outros pontos sugeridos pelo tema; em matemática os alunos farão levantamentos estatísticos estatísticas sobre a dengue, com aplicação de formulários em enquetes com a população. Enfim, todos os professores encontraram assunto para debater em suas aulas sobre a dengue.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrjJLnEOYU_zKdIUn4X2DZQTcg-_IX58P2YNhltwkaAGP5usSpjf8RjV2VpAH52qSDsGl6LotBCCQdiKk5W71z7aY8uLDXDdu2R-IQsHJBOg9tpsq4u6zD5RmM0OX11vnVCYqLYJe3uqg/s200/DSC03452.JPG) |
Professara ana e a receita de bolo |
Bolo especial de páscoa - Sob a maestria da professora Ana Laura Basso Royer, 16 alunos do 1º ciclo de alfabetização aprenderam brincadeiras e se lambuzaram com o que eles acham mais interessante nesse período: as guloseimas. A páscoa e suas simbologias foram debatidas sobre o ponto de vista histórico e cultural para que os alunos aprendam a fazer leituras além das letras. Eles trabalharam textos, através da composição de músicas sobre a páscoa, estudaram química e física através da confecção de um bolo de chocolate para comemorar o dia da ressurreição de Cristo.
Para finalizar as atividades da semana, a professora fez um bolo de chocolate. O bolo teve a cobertura de brigadeiro e foi confeccionado na sala de aula, sob os olhares curiosos e gulosos das crianças. Enquanto trabalhava a massa, a professora explicava a receita e falava de fórmulas. “Temos que ensinar nossas crianças a ler e interpretar o mundo e seus acontecimentos, não apenas o alfabeto”, disse a professora.
No final da aula o bolo foi servido, sob uma dura aula de matemática, com da divisão do bolo e a fatia de cada um, a soma dos copos de refrigerante e a multiplicação da alegria da gurizada.
O que fazem ou pensam os jovens de São Lourenço
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJvczX4O89F87oX0RBwkNe7ernqjfOvmdqPLg3O050AYJjCmUEZIfMpWjSoUWAIx4TQiZI0q_Eb8KY86aj8DIWv0Cpzo6hP81IMn8VTc2ashiTOpHjs0mH9E4vyVA-lcmQIIxOKxukgHo/s200/DSC03463.JPG) |
Jessica quer ser jornalista |
Ela quer ser jornalista - Jessica Borges Santana, 16 anos, mora 14 km distante da escola, na Fazendo Nova. Cursa o 1º ano do médio e não gosta de morar na roça. Pensa em cursar jornalismo e mudar-se para a cidade. Seus fins de semana são aproveitados com os amigos numa cachoeira próximo da vila, onde se reúnem e jogam vôlei e ouvir música. Ela é fã de Luan Santana. Ao contrário do costume do interior, Jessica não pensa em se casar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRSIZf4k5QS3ihyphenhyphen2D3Ts2vrCM0z2VyNFSmydpt0V1nWu5_Sw9whtvDiqPpfnlY4bEeh2U02mx3GF-yEvbBDyT8a6-tj8aNlOJcCFAIrvd3XjkKPDuyLws3c3na-yCCuNbyYf8lGDXPcVs/s200/DSC03534.JPG) |
Danúbia e Fernanda |
Danúbia Evald da Silva, 14 anos, cursa o 1º ano médio e é irmã de Fernanda de 11 anos, que cursa a 7ª série. Elas nasceram em um sítio há 15 km da vila e gostam de morar na área rural, mas pensam em conhecer lugares distantes e diferentes. “Vou ser médica e morar na cidade, depois disso quero viajar muito e conhecer o mundo”, comenta Danúbia. Seu desejo é conhecer Dubai.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZzU_qLeIOjPJP1FES9EwkrjAteaUkZ-r7HfQCSWV3CD21jqpIFPuFWSnXRerVfhpzgVxQHDGRNHmfKuP2pGsME6404_S211VOoMkjTTVZ7fgTSGrVbDPFXMKR1YAWkzpu34aVcdooh0Q/s200/DSC03472.JPG) |
Jefferson gosta da atividade rural |
Jeferson Borges Santana tem 17 anos, cursa o 2º ano médio. Sua ocupação é ajudar o pai na lida com o gado. “Pretendo fazer medicina veterinária ou agronomia, para não perder o vínculo com o campo. Tudo o que eu aprendi está relacionado com as atividades rurais, por isso pretendo continuar”, comenta Jeferson. Apesar disso, ele planeja morar na cidade e ir ao campo só para trabalhar. Sua diversão maior é caçar e pescar. Casamento está fora de seus planos. Jovens plugados - Joel Vieira, 35 anos, trabalha com transporte escolar há seis anos. Segundo ele, para lidar com os alunos é preciso ter autoridade, mas, garante que os alunos são educados e respeitosos - é claro que existem exceções. “As pessoas da roça não são mais jecas, como o povo da cidade acredita. Eles são bem plugados, conhecem muitas coisas, tem celulares, vão à cidade freqüentemente. Muitos têm TV e até participam de redes sociais na internet”, afirmou o motorista.
Facilidades para os alunos - Joel conheceu todas as comunidades rurais do município de Vilhena durante os seis anos de profissão. Isso porque sua função é substituir os colegas nas folgas ou licenças. Segundo ele, essa geração de alunos tem mais privilégio que teve a sua geração. “No meu tempo de escola, eu caminhava 14 km por dia para estudar. Não havia transporte escolar e nem tantos outros benefícios disponíveis para os alunos de hoje” comenta.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhR5PggiHEccSJUVyZUp0cK41Rb7yfs11ny0RfXX_uES6qG_KX7KeOA-5ouUWfpa0bqoS4tLdPdEFL50e-KPd24MHzwfFE56zrLi8Dz8tbEDDQRjr2Ex9C4NGO3czy49rJqxC4q-a2MSjI/s200/DSC03482.JPG) |
Joel: "Não exiestem jecas no interior" |
Transporte escolar - Sobre as dificuldades no transporte, Joel destaca as estradas ruins, em função do período chuvoso, e a BR movimentada. “As estradas vicinais, em qualquer município, nesse período das chuvas ficam prejudicadas. Isso é normal. O que mais me preocupa é a BR, pelo grande movimento de carretas. Temos que parar em muitos lugares para recolher alunos e isso se torna um pouco perigoso, por isso temos que trabalhar com muita atenção em respeito aos alunos que transportamos”. Finaliza Joel.
Não sabia que tinha isso em Vilhena. Parabésn para os professores e os gestores públicos. Isso é mesmo muito bom!
ResponderExcluirParabéns aos servidores dessa escola, pelo profissionalismo e dedicação. Temos orgulho de vocês
ResponderExcluirACHEI MUITO LEGAL A MATÉRIA, PORÉ, FAÇO ALGUMAS OBSERVAÇÕES, QUE PRA SERVIR A MERENDA É NECESSÁRIO ALGUMAS RECOMENDAÇÕES QUE AS PESSOAS QUE ESTÃO SERVINDO NÃO ESTÃO DE ACORDO COMO É RECOMENDADO.UNHA PINTADA, SEM TOCA, ETC........
ResponderExcluirRealmente, durante a realização desta matéria algumas pessoas que serviram o lanche não estavam usando a touca. Porém, todas as escolas municipais usam as toucas como recomendado. Todas as merendeiras são orientadas a usá-las durante o preparo e também na hora de servir.
ResponderExcluir